• Concurso da sede do IPHAN em Brasília
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  • Brasília - DF
  • Projeto: 2006
  • A importância do IPHAN na história da cultura brasileira e na construção da identidade nacional situa o problema arquitetônico em questão para além da mera solução funcional do programa, requerendo uma arquitetura que, transcendendo a estrita utilidade, seja capaz de se firmar —não pela ostentação, mas pela diferença— na memória coletiva dos cidadãos.


    O PROJETO

    O edifício organiza-se em 4 níveis, e tem seu perímetro total definido por um quadrado perfeito com 70 metros de lado.

    A escavação do primeiro pavimento —3,66m abaixo do nível do terreno— possibilita que o edifício alcance justamente o gabarito máximo de 12 metros definido pela legislação.

    O acesso principal ao edifício se dá por este primeiro pavimento, através de suave rampa descendente, ladeada por um Espelho d’água inclinado (constituído de fina lâmina d’água escorrendo sobre superfície revestida com placas de granito polido). Assim, é continuada —e ao mesmo tempo invertida— uma solução de agenciamento típica da arquitetura local.

    O espaço rebaixado da Rampa constituirá um , espécie de pátio, ao longo do qual o visitante gradativamente distancia-se do ambiente da rua, num percurso processional até a entrada sombreada sob o grande volume em balanço.

    No interior, o grande Salão de Entrada é o coração do edifício. Verdadeira Praça coberta (de planta quadrada —40x40m— e dupla altura —6.62m).

    A partir desse espaço memorável de orientação e integração espacial, o visitante terá acesso —direto ou através de circulações verticais— a todos os ambientes do edifício.

    Do Salão, se percebe o partido de concepção do edifício pela alternância de cheios e vazios —os primeiros correspondentes a ambientes cuja funcionalidade requer fechamento; os últimos correspondendo a grandes espaços intersticiais articulados pela luz lateral proveniente das peles de vidro das fachadas.

    Assim buscou-se uma arquitetura baseada na força expressiva do espaço, articulado através da luz e animado pelas atividades humanas. Uma arquitetura de rigor construtivo e austeridade plástica que nos parece adequada como expressão dos valores da instituição nela abrigada.

    Estruturalmente, o edifício é resolvido com uma treliça em aço na Coberta, apoiada em muros perimetrais de concreto armado, nas Torres de circulações verticais e na Coluna solitária —uma — no Salão de Entrada.

    A altura  total de 2.26m da Treliça da coberta permitirá vencer os grandes vãos e sustentar através de tirantes metálicos as lajes dos dois pavimentos de escritórios, suspensas sobre o Salão de Entrada. (As lajes dos demais ambientes serão apoiadas diretamente em colunas espaçadas em vãos de 10 e 15m.)

    Os quatro planos de fachadas que definem o prisma total do edifício são constituídos de Peles de Vidro contínuas, ocasionalmente interrompidas pelos Muros estruturais em concreto, moldados em formas rústicas e pintados em cores vivas. (A configuração desses muros nas fachadas reflete também a espacialidade interior, correspondendo à localização de ambientes onde a iluminação direta é dispensável ou inoportuna —como acervos do Arquivo e da Biblioteca e Circulações Verticais.)

    A adoção de Peles de vidro contínuas, garantindo a provisão de luz natural abundante, possibilitará flexibilidade absoluta para transformações dos lay-outs interiores. Sobretudo nos ambientes de Escritório, para os quais é proposto o sistema de , organizado em estações de trabalho, reduzindo divisórias altas ao mínimo indispensável (Salas de Reuniões, Chefias, Gerências, etc.).

    As peles de Vidro serão protegidas da insolação direta por uma membrana de brises metálicos (com pintura em branco). Assim é reinterpretada uma tradição da arquitetura moderna brasileira, caracterizada desde os princípios pela adequação ao ambiente tropical.

    O grau de vazadura desta membrana será experimentalmente definido para que —sem perder sua função protetora— resultem planos de translucidez variável, conforme o ângulo de visão e a variação da luz (interna ou incidente) ao longo do dia. Assim, o edifício poderá ser lido tanto como um volume opaco, como uma composição de planos translúcidos —ao entardecer, transformando-se numa gigantesca lâmpada acesa na paisagem de Brasília.